Família

Família

domingo, 27 de abril de 2014

TEMPO E FELICIDADE

Como já disse em outros posts, reforço a importância da doação do nosso tempo para o bem do nosso próximo. É muito gratificante ter pessoas que, de algum modo, dedicam seu tempo a mim e, para que  isso se realize, abrem mão de algo pessoal.

Ontem foi um dia especial. No horário da minha terapia, além da minha psicóloga, Patrícia, vieram minha fonoaudióloga, Margarida, e meu fisioterapeuta, Guilherme. Fazia tempo que eles queriam me levar para passear, e ontem, para a minha surpresa, eles se reuniram aqui em casa para me tirar da cama e me levar para o quintal; afinal, passear era demais para mim, já que fazia meses que eu não saía do quarto.

Confesso que só tomei coragem para sair na cadeira de rodas porque eles estavam aqui. Eu pensei: pôxa, eles estão aqui por mim, mudaram suas vidas por algumas horas por mim, eu não posso decepcioná-los. Fui coagida (risos)! Uma coação do bem! Me senti querida, me senti feliz! Tomei coragem e fui de bip-pap e tudo. O Guilherme me colocou na cadeira com a ajuda dos demais.

Vocês sabem o que aconteceu? FOI BOM DEMAIS!!! Foi bom também ver a expressão de alegria de todos, inclusive do Alkinder e da Gisa, minha cuidadora. Ah, acho que a Margarida, a fonoaudióloga, não ficou 100% feliz porque eu não comi nada (risos).  Calma, uma coisa de cada vez! 

Para completar o meu dia, recebi visitas que amo: Márcia,  Lilian, Elton, meus pais, Isadora, Juliana, Viana, Luciana, Marquinhos, Hallison, meus sogros e Ceiça!

Obrigada a todos que fazem parte da minha vida! Cada um do seu jeito!

Beijos,
Dani.
 
 
 

sábado, 12 de abril de 2014

FAMÍLIA

Sempre vejo nesses programas de TV a cabo que é comum, pela lei da selva, um grupo de animais abandonar um membro que está doente ou ferido. Mas o que mais me chocou foi o vídeo de uma tigresa que abandonou seu filhote porque ele ficou paraplégico após uma briga com outro animal. A mãe ia andando e o filhote gritava (ou chorava) porque não conseguia acompanhá-la. Muito triste! Talvez esse vídeo tenha mexido comigo por causa da minha história. 

Afinal, quantas histórias de pessoas doentes, principalmente idosos, abandonados pelas famílias ouvimos por aí? Muitas, não é? E ouvimos também outras de famílias que cuidam de seus doentes. Como estou nesse meio de home-care, escuto as mais bonitas e as mais tristes histórias. E percebi que ambas são difíceis, mas as bonitas são recheadas de amor.

Como já falei em outro post, se há amor, não há como a vida de uma família continuar a mesma quando um membro fica muito doente! Nem se a doença for simples. Por exemplo: uma cirurgia de joelho simples do meu irmão mobilizou meus pais por duas semanas. Eles tiveram que ir ao Rio de Janeiro, mais especificamente em Resende, para cuidar do meu irmão. Ciúmes? Não! Porque sei que o amor está presente, afinal, somos quatro filhos e temos que dividir os nossos pais.

A minha história é recheada de amor, tenho o amor do meu marido e dos meus pais. Sou privilegiada por ter a presença deles e saber que eles não me abandonarão nunca. Tenho uma estrutura que me atende, e sou grata a Deus por isso. Muitas vezes, fico pensando naqueles que não têm a família por perto e dão sorte quando algum vizinho ou alguém da comunidade ajudam. Porque há pessoas com ELA que não têm nada, nem um olhar carinhoso.

Quando estive em tratamento no HRAN - Hospital Regional da Asa Norte, em Brasília, fiquei sabendo de uma paciente com ELA que era cuidada pela filha de sete anos. Os pais já estavam falecidos, era filha única por parte de mãe e não se dava bem com os irmãos por parte de pai. Morava no fundo da casa da ex-sogra, pois era separada. Ela só tinha a filha, uma menina que foi obrigada a crescer antes da hora, e que fazia tudo pela mãe. A levava ao banheiro, dava-lhe banho e comida, faxinava a casa... Prestava todos os cuidados que deveriam ser feitos por um profissional. Ah, a menina ainda estudava. Quando estava na aula, a mãe ficava na cama, esperando a filha chegar para cuidar dela. Uma história muito triste de uma criança, que por amor, mudou toda a sua vida. E não reclamava, pelo contrário, ela sempre perguntava o que poderia fazer para que a mãe ficasse boa. Coitadinha! Já fazia tanto! Isso faz dois anos e não tive mais notícias.

Não me cabe aqui fazer julgamentos, mas nós vemos muitos adultos que são incapazes de cuidar dos próprios pais, e, por outro lado, vemos a história de uma menininha que abdicou da sua infância pela mãe. Uma mãe cuida de dez filhos, mas dez filhos não cuidam de uma mãe. Bom, há de tudo nessa vida... cada caso é um caso e cada um sabe de si!!! Mas, como estou doente, a minha visão das coisas da vida mudou.

Beijos,

Dani.