Fui internada dia 23/04 para tratamento de uma infecção pulmonar. Meus exames de sangue estavam ruins e meus médicos acharam melhor o tratamento endovenoso. Não tinha data para a traqueostomia, nem para a troca da gtt. Até porque estava difícil conciliar as agendas dos dois cirurgiões torácicos e do gastro. Foi aí que desistimos de trocar a gtt e priorizamos a traqueostomia. A cirurgia foi marcada para o dia 26/04, um domingo, as 8h30. Mas um dos cirurgiões, amigo do gastro, ia ver se ele poderia ir na data marcada. Mas a princípio seria só a traqueostomia.
Dia 26/04, cedo, eu estava pronta. Para eu me sentir mais segura, minha técnica e meu fisioterapeuta participariam da minha cirurgia. Quando cheguei ao centro cirúrgico, os dois foram trocar de roupa e eu entrei sem eles. Vi um corredor longo, cheio de macas e algumas pessoas nelas. Uma visão horrível. Achei o centro cirúrgico feio e velho. Parecia sujo e eu acho que precisa de reforma. Bem, me levaram para a sala e eu gemendo, desesperada porque queria minha técnica perto de mim e ela ainda estava trocando de roupa. Apesar do desespero, tive um momento de felicidade. Vi os olhinhos puxados do meu gastro por debaixo da máscara que ele usava. Isso significava que eu iria trocar a gtt. Bom que eu não precisaria ser sedada novamente. Faria tudo junto. O anestesista chegou e foi me colocando na mesa cirúrgica, me deixando toda troncha. Mas o pior momento foi quando ele disse para tirar a máscara. Entrei em pânico, com medo de sufocar. Comecei a gritar "não" e senti um liquido entrando na minha veia. Apaguei. Foram minhas últimas lembranças. Anestesia geral é tudo de bom.
Quando voltei, eu vi o rosto da minha técnica. Fiquei aliviada. Achei que eu fosse me sentir mais confortável sem a máscara, mas confesso que não fez a menor diferença. Nem percebi que estava sem. Só queria pedir a minha técnica para levantar a cabeceira da cama, mas meus olhos estavam pesados e eu não consegui dizer nada. Depois de alguns minutos, eu consegui me comunicar e fui para o quarto. Não precisei de UTI. Na volta ao quarto, eu só me lembro da minha mãe me dando um beijo e dizendo que estava feliz por me ver. Não me lembro de muitas coisas desse dia. Não sei se tomei banho ou fiz outras coisas. Sei que meus pais, meu irmão e meu marido estavam lá, mas não me lembro o que eles falaram ou o que conversamos.
O que aconteceu nos dias subsequentes a cirurgia foi que eu tive cada vez mais dificuldade para respirar. Às vezes minha saturação caia, outras não, mas o esforço para respirar era enorme e eu ficava cada vez mais exausta. Toda noite era preciso chamar o fisio da UTI para me atender. Fui melhorando à medida que os parâmetros do respirador foram ajustados. Teve um dia que eu estava tão mal que meu pai, em um momento de desespero, disse para eu reverter a traqueostomia. Me partiu o coração vê-lo assim. Até porque, por mais que quiséssemos, essa opção era inviável. Depois que voltei para casa, uma das minha técnicas me confessou que achou que eu ia morrer. Engraçado que em nenhum momento eu pensei nisso. Não por mérito meu, mas porque, simplesmente, não tinha chegado a minha hora. Eu acho que nós sabemos ou sentimos quando a morte está por perto
Além disso, uns 10 dias depois da cirurgia, eu tive um grande sangramento. Por volta das 2h da manhã, eu senti um liquido escorrendo pelo pescoço, mas como eu estava babando muito, eu achei que fosse saliva. As 6h, minha técnica viu o sangramento. Nesse momento, fiquei com medo porque ela fez uma cara de assustada e disse que ia chamar o fisio da UTI. Primeiro vieram duas enfermeiras. Elas foram péssimas. Disseram que não iam chamar o fisio porque eu estava sangrando em função da posição da minha cabeça que estava para frente e começaram a me pagar sapo. Fiquei indignada, pois independente do motivo, elas tinham que chamar alguém para me examinar. Depois de muita insistência, elas chamaram o fisio. Ele examinou e disse que o sangramento era externo (menos mal) e que ia chamar o médico. Vieram dois, um me examinou e disse a mesma coisa que o fisio e que ia chamar um cirurgião. A médica cirurgiã veio e disse que o sangramento não era decorrente da posição da cabeça e que eu podia ficar na posição que eu quisesse e que, inclusive, eu poderia fazer ambu quantas vezes fossem necessárias porque o meu conforto e a minha respiração eram prioridades. Ainda disse que era obrigação dela estancar o sangue. Ela fez um curativo e disse que voltava depois. Não sei porque, mas adorei essa médica! kkkkkk... Bom, depois de muitas visitas médicas, chegamos à conclusão de que o problema era o clexane, um anticoagulante que eu estava tomando em dose máxima e estava dificultando minha cicatrização. Suspenderam o clexane e o sangramento foi reduzindo.
Depois disso tudo, veio a parte mais difícil: adaptação. Está muito difícil. Eu "achava" várias coisas que não aconteceram. Eu achava que minha respiração fosse melhorar, que a secreção e quantidade de aspirações fossem reduzir, que eu fosse ter mais conforto, que eu não fosse sentir dor e incômodo quando mexessem em mim, que salivação fosse reduzir, que o cuff não fosse incomodar tanto, enfim... muitas coisas... juntando tudo que aconteceu: dificuldade para respirar, para me adaptar e para cicatrizar, eu fiquei muito triste. Fui desenvolvendo um sentimento de autopiedade que acabou com o meu emocional.
Temos que ser submetidos a alguns procedimentos para não pegarmos uma infecção, para manter o pulmão limpo e para respirarmos melhor. São eles:
Dia 26/04, cedo, eu estava pronta. Para eu me sentir mais segura, minha técnica e meu fisioterapeuta participariam da minha cirurgia. Quando cheguei ao centro cirúrgico, os dois foram trocar de roupa e eu entrei sem eles. Vi um corredor longo, cheio de macas e algumas pessoas nelas. Uma visão horrível. Achei o centro cirúrgico feio e velho. Parecia sujo e eu acho que precisa de reforma. Bem, me levaram para a sala e eu gemendo, desesperada porque queria minha técnica perto de mim e ela ainda estava trocando de roupa. Apesar do desespero, tive um momento de felicidade. Vi os olhinhos puxados do meu gastro por debaixo da máscara que ele usava. Isso significava que eu iria trocar a gtt. Bom que eu não precisaria ser sedada novamente. Faria tudo junto. O anestesista chegou e foi me colocando na mesa cirúrgica, me deixando toda troncha. Mas o pior momento foi quando ele disse para tirar a máscara. Entrei em pânico, com medo de sufocar. Comecei a gritar "não" e senti um liquido entrando na minha veia. Apaguei. Foram minhas últimas lembranças. Anestesia geral é tudo de bom.
Quando voltei, eu vi o rosto da minha técnica. Fiquei aliviada. Achei que eu fosse me sentir mais confortável sem a máscara, mas confesso que não fez a menor diferença. Nem percebi que estava sem. Só queria pedir a minha técnica para levantar a cabeceira da cama, mas meus olhos estavam pesados e eu não consegui dizer nada. Depois de alguns minutos, eu consegui me comunicar e fui para o quarto. Não precisei de UTI. Na volta ao quarto, eu só me lembro da minha mãe me dando um beijo e dizendo que estava feliz por me ver. Não me lembro de muitas coisas desse dia. Não sei se tomei banho ou fiz outras coisas. Sei que meus pais, meu irmão e meu marido estavam lá, mas não me lembro o que eles falaram ou o que conversamos.
O que aconteceu nos dias subsequentes a cirurgia foi que eu tive cada vez mais dificuldade para respirar. Às vezes minha saturação caia, outras não, mas o esforço para respirar era enorme e eu ficava cada vez mais exausta. Toda noite era preciso chamar o fisio da UTI para me atender. Fui melhorando à medida que os parâmetros do respirador foram ajustados. Teve um dia que eu estava tão mal que meu pai, em um momento de desespero, disse para eu reverter a traqueostomia. Me partiu o coração vê-lo assim. Até porque, por mais que quiséssemos, essa opção era inviável. Depois que voltei para casa, uma das minha técnicas me confessou que achou que eu ia morrer. Engraçado que em nenhum momento eu pensei nisso. Não por mérito meu, mas porque, simplesmente, não tinha chegado a minha hora. Eu acho que nós sabemos ou sentimos quando a morte está por perto
Além disso, uns 10 dias depois da cirurgia, eu tive um grande sangramento. Por volta das 2h da manhã, eu senti um liquido escorrendo pelo pescoço, mas como eu estava babando muito, eu achei que fosse saliva. As 6h, minha técnica viu o sangramento. Nesse momento, fiquei com medo porque ela fez uma cara de assustada e disse que ia chamar o fisio da UTI. Primeiro vieram duas enfermeiras. Elas foram péssimas. Disseram que não iam chamar o fisio porque eu estava sangrando em função da posição da minha cabeça que estava para frente e começaram a me pagar sapo. Fiquei indignada, pois independente do motivo, elas tinham que chamar alguém para me examinar. Depois de muita insistência, elas chamaram o fisio. Ele examinou e disse que o sangramento era externo (menos mal) e que ia chamar o médico. Vieram dois, um me examinou e disse a mesma coisa que o fisio e que ia chamar um cirurgião. A médica cirurgiã veio e disse que o sangramento não era decorrente da posição da cabeça e que eu podia ficar na posição que eu quisesse e que, inclusive, eu poderia fazer ambu quantas vezes fossem necessárias porque o meu conforto e a minha respiração eram prioridades. Ainda disse que era obrigação dela estancar o sangue. Ela fez um curativo e disse que voltava depois. Não sei porque, mas adorei essa médica! kkkkkk... Bom, depois de muitas visitas médicas, chegamos à conclusão de que o problema era o clexane, um anticoagulante que eu estava tomando em dose máxima e estava dificultando minha cicatrização. Suspenderam o clexane e o sangramento foi reduzindo.
Depois disso tudo, veio a parte mais difícil: adaptação. Está muito difícil. Eu "achava" várias coisas que não aconteceram. Eu achava que minha respiração fosse melhorar, que a secreção e quantidade de aspirações fossem reduzir, que eu fosse ter mais conforto, que eu não fosse sentir dor e incômodo quando mexessem em mim, que salivação fosse reduzir, que o cuff não fosse incomodar tanto, enfim... muitas coisas... juntando tudo que aconteceu: dificuldade para respirar, para me adaptar e para cicatrizar, eu fiquei muito triste. Fui desenvolvendo um sentimento de autopiedade que acabou com o meu emocional.
Temos que ser submetidos a alguns procedimentos para não pegarmos uma infecção, para manter o pulmão limpo e para respirarmos melhor. São eles:
1. Cough assist. É uma máquina que tosse por mim uma vez que eu não tenho força para tossir e eliminar a secreção pulmonar. A máquina é conectada a traqueia. Em seguida, ela faz uma pressão positiva, jogando ar para o meu pulmão por dois segundos. Na sequência, a máquina faz uma pressão negativa e puxa o ar por mais dois segundos. Quando o ar é puxado, a secreção vem junto. Para finalizar, dois segundos de pausa. Fazemos seis ciclos desse por vez, a quantidade de vezes que for necessária. Para o nosso bem estar, precisamos ser submetidos ao cough assist várias vezes por dia.
2. Desinsuflar cuff: "O cuff é um manguito localizado ao redor da traqueostomia ou tubo orotraqueal. Quando o balonete é preenchido com ar, ele se encaixa (molda) a forma da traquéia. Este balonete veda o espaço entre a parede da traquéia e a prótese ventilatória. O cuff é insuflado pela entrada de ar através da linha de insuflação/desinsuflação e o balão-piloto."**
Não sei o motivo, mas a saliva da boca vai se acumulando no cuff, causando muito desconforto. Quando desinsuflam o cough, essa saliva que virou secreção bem espessa, sai pela garganta. Sai muita coisa. é nojento. Como a secreção é empurrada pelo ar, quando ela sai, eu começo a tossir, como se fosse vomitar. Horrível.
3. Aspiração: como eu não consigo cuspir, engolir, pigarrear, escarrar ou assoar nariz, toda secreção da traqueia, garganta, boca e nariz precisam ser retiradas pela aspiração. Enfia-se uma sonda, ligada a um aspirador, par sugar a secreção. A secreção do nariz e da garganta aumentou depois da traqueostomia para aumento do meu sofrimento.
4.Uso do ambu: é usado para aumentar nossa expansão pulmonar e, consequentemente, nossa ventilação. Ele também é utilizado para mobilizar a secreção.
Sou submetida a esses procedimentos várias vezes por dia é horrível porque é muito desconfortável. A cada vez que sou submetida a eles, eu morro um pouquinho porque é sofrido. Mas quando acaba, o alívio é grande e, como a Fênix, renasço das cinzas. Esse processo de morte e renascimento é muito desgastante. Fico exausta, inconformada, triste, com raiva e choro com pena de mim mesma, mas faz parte da minha vida e eu terei que superar mais esse momento.
Usar traqueostomia é horrível. Achei que minha respiração fosse ficar limpa, mas não. Posso fazer todos os procedimentos indicados, como desinsuflar e insulflar cuff, cough e aspirar, que 5 minutos depois, a traqueia volta a roncar por causa da secreção. Estou tendo que aspirar as 6h da manhã. Quando eu usava a máscara, eu aspirava antes de dormir e depois só as 10h da manhã do dia seguinte. Não subia secreção e eu não salivava durante a noite. O filtro da traqueo é umidificado, fica encharcado o tempo todo e precisa ser sacudido para retirar o excesso de água. O cuff tem um valor máximo de pressão para não necrosar a traqueia. Temos que ficar de olho nisso. Achei que não fosse precisar aspirar o fundo da garganta. Mas precisa porque toda vez que desinsufla o cuff, sai secreção e, as vezes, a secreção vaza para garganta. Já aconteceu do cuff desinsuflar sozinho e eu acordar assustada, durante a noite, com aquela secreção minando da minha garganta e com uma sensação de engasgo e ânsia de vômito.
Mas há duas coisas piores. Uma delas foi que eu não consigo mais gemer. Antes, eu conseguia gemer e chamar as pessoas. Por exemplo, durante a noite, quando eu estava com dor ou desconfortável, eu gemia, a pessoa que estava no quarto comigo, acordava, e vinha ver o que queria. Agora, eu preciso esperar alguém acordar, para me olhar e vir ver qual é minha necessidade. Um dia, fiquei quase uma hora com uma dor gigante na perna esquerda até alguém vir me socorrer. Resumindo: estou exausta porque não durmo nada. Outra coisa, é que achei a conexão do circuito (mangueira) do respirador com minha traqueia muito frágil. Se não ficar bem presa, a própria pressão do ar expulsa a mangueira da traqueia. Isso já aconteceu comigo algumas vezes e, por isso, não posso fica sozinha. Se houver demora para colocar a mangueira do respirador na minha traqueia, eu posso morrer com falta de ar. Isso me deixa tensa e está dificultando minhas noites de sono. Fora que eu dormia de lado, mas não tenho coragem de ficar nessa posição novamente.
Há algo que deixei por último e que foi tão difícil quanto as outras coisas. Me ver no espelho. Não foi fácil ver meu rosto atrofiado, deformado e inchado sem a máscara. Não me reconheço nessa imagem onde não dá para identificar se estou sorrindo e chorando. Eu não tenho mais expressão. Eu não era linda, mas tinha meus encantos. Meu olhar e meu sorriso eram marcantes. Pelo menos, eu gostava. Só que agora acabou. Só há uma forma de saber o que estou sentindo: me perguntando.
Ainda estou com muita dor na traqueostomia, principalmente na parte interna e na parte externa quando prendem e tiram a mangueira da minha traqueia. Talvez, seja necessário trocar o modelo da traqueo. Espero que seja isso... dos males, o menor.
Não sei o porquê, mas ando exausta. Meus olhos estão mais pesados. Está mais difícil para usar o computador. Minha saturação está ótima. Mas parece que tenho que me esforçar mais para respirar. Vamos torcer para que essa dor passe, as coisas se normalizem e eu possa ter um pouco de qualidade de vida.
Gostaria de me desculpar com os leitores que esperavam um texto cheio de otimismo. Estou muito triste. Eu esperava um procedimento sem intercorrências, mas não foi assim. Eu não escrevi tudo que aconteceu para não expor os profissionais envolvidos, mas tiveram cagadas que impactaram diretamente na minha recuperação. Enfim... a minha esperança é que tudo passe, como passaram as outras etapas da doença, como a gtt, o começo do uso do respirador e a perda da fala. São esses momentos que me enchem de esperança porque eles foram superados, tanto que nem me lembro das dificuldades enfrentadas em cada um deles.
Gostaria de agradecer meus pais, irmão, marido, médicos, fisioterapeutas, meus fisioterapeutas, enfermeiros, técnicos de enfermagem, minhas técnicas e cuidadoras e a Amil por ter liberado minhas técnicas para irem ao hospital comigo. Se não fossem por vocês, eu não teria conseguido.
Obrigada você por ler meu blog
Beijo.
Dani.
** Fonte: http://www.concursoefisioterapia.com/2010/05/cuff-ou-manguito.html
2. Desinsuflar cuff: "O cuff é um manguito localizado ao redor da traqueostomia ou tubo orotraqueal. Quando o balonete é preenchido com ar, ele se encaixa (molda) a forma da traquéia. Este balonete veda o espaço entre a parede da traquéia e a prótese ventilatória. O cuff é insuflado pela entrada de ar através da linha de insuflação/desinsuflação e o balão-piloto."**
Não sei o motivo, mas a saliva da boca vai se acumulando no cuff, causando muito desconforto. Quando desinsuflam o cough, essa saliva que virou secreção bem espessa, sai pela garganta. Sai muita coisa. é nojento. Como a secreção é empurrada pelo ar, quando ela sai, eu começo a tossir, como se fosse vomitar. Horrível.
3. Aspiração: como eu não consigo cuspir, engolir, pigarrear, escarrar ou assoar nariz, toda secreção da traqueia, garganta, boca e nariz precisam ser retiradas pela aspiração. Enfia-se uma sonda, ligada a um aspirador, par sugar a secreção. A secreção do nariz e da garganta aumentou depois da traqueostomia para aumento do meu sofrimento.
4.Uso do ambu: é usado para aumentar nossa expansão pulmonar e, consequentemente, nossa ventilação. Ele também é utilizado para mobilizar a secreção.
Sou submetida a esses procedimentos várias vezes por dia é horrível porque é muito desconfortável. A cada vez que sou submetida a eles, eu morro um pouquinho porque é sofrido. Mas quando acaba, o alívio é grande e, como a Fênix, renasço das cinzas. Esse processo de morte e renascimento é muito desgastante. Fico exausta, inconformada, triste, com raiva e choro com pena de mim mesma, mas faz parte da minha vida e eu terei que superar mais esse momento.
Usar traqueostomia é horrível. Achei que minha respiração fosse ficar limpa, mas não. Posso fazer todos os procedimentos indicados, como desinsuflar e insulflar cuff, cough e aspirar, que 5 minutos depois, a traqueia volta a roncar por causa da secreção. Estou tendo que aspirar as 6h da manhã. Quando eu usava a máscara, eu aspirava antes de dormir e depois só as 10h da manhã do dia seguinte. Não subia secreção e eu não salivava durante a noite. O filtro da traqueo é umidificado, fica encharcado o tempo todo e precisa ser sacudido para retirar o excesso de água. O cuff tem um valor máximo de pressão para não necrosar a traqueia. Temos que ficar de olho nisso. Achei que não fosse precisar aspirar o fundo da garganta. Mas precisa porque toda vez que desinsufla o cuff, sai secreção e, as vezes, a secreção vaza para garganta. Já aconteceu do cuff desinsuflar sozinho e eu acordar assustada, durante a noite, com aquela secreção minando da minha garganta e com uma sensação de engasgo e ânsia de vômito.
Mas há duas coisas piores. Uma delas foi que eu não consigo mais gemer. Antes, eu conseguia gemer e chamar as pessoas. Por exemplo, durante a noite, quando eu estava com dor ou desconfortável, eu gemia, a pessoa que estava no quarto comigo, acordava, e vinha ver o que queria. Agora, eu preciso esperar alguém acordar, para me olhar e vir ver qual é minha necessidade. Um dia, fiquei quase uma hora com uma dor gigante na perna esquerda até alguém vir me socorrer. Resumindo: estou exausta porque não durmo nada. Outra coisa, é que achei a conexão do circuito (mangueira) do respirador com minha traqueia muito frágil. Se não ficar bem presa, a própria pressão do ar expulsa a mangueira da traqueia. Isso já aconteceu comigo algumas vezes e, por isso, não posso fica sozinha. Se houver demora para colocar a mangueira do respirador na minha traqueia, eu posso morrer com falta de ar. Isso me deixa tensa e está dificultando minhas noites de sono. Fora que eu dormia de lado, mas não tenho coragem de ficar nessa posição novamente.
Há algo que deixei por último e que foi tão difícil quanto as outras coisas. Me ver no espelho. Não foi fácil ver meu rosto atrofiado, deformado e inchado sem a máscara. Não me reconheço nessa imagem onde não dá para identificar se estou sorrindo e chorando. Eu não tenho mais expressão. Eu não era linda, mas tinha meus encantos. Meu olhar e meu sorriso eram marcantes. Pelo menos, eu gostava. Só que agora acabou. Só há uma forma de saber o que estou sentindo: me perguntando.
Ainda estou com muita dor na traqueostomia, principalmente na parte interna e na parte externa quando prendem e tiram a mangueira da minha traqueia. Talvez, seja necessário trocar o modelo da traqueo. Espero que seja isso... dos males, o menor.
Não sei o porquê, mas ando exausta. Meus olhos estão mais pesados. Está mais difícil para usar o computador. Minha saturação está ótima. Mas parece que tenho que me esforçar mais para respirar. Vamos torcer para que essa dor passe, as coisas se normalizem e eu possa ter um pouco de qualidade de vida.
Gostaria de me desculpar com os leitores que esperavam um texto cheio de otimismo. Estou muito triste. Eu esperava um procedimento sem intercorrências, mas não foi assim. Eu não escrevi tudo que aconteceu para não expor os profissionais envolvidos, mas tiveram cagadas que impactaram diretamente na minha recuperação. Enfim... a minha esperança é que tudo passe, como passaram as outras etapas da doença, como a gtt, o começo do uso do respirador e a perda da fala. São esses momentos que me enchem de esperança porque eles foram superados, tanto que nem me lembro das dificuldades enfrentadas em cada um deles.
Gostaria de agradecer meus pais, irmão, marido, médicos, fisioterapeutas, meus fisioterapeutas, enfermeiros, técnicos de enfermagem, minhas técnicas e cuidadoras e a Amil por ter liberado minhas técnicas para irem ao hospital comigo. Se não fossem por vocês, eu não teria conseguido.
Obrigada você por ler meu blog
Beijo.
Dani.
** Fonte: http://www.concursoefisioterapia.com/2010/05/cuff-ou-manguito.html