Muita coisa parece, mas não é. Flor de plástico parece de verdade, mas não é. A esclerose lateral amiotrófica - ELA parece morte, mas não é.
Apesar de morrermos um pouco, afinal toda transformação significa a morte do que se foi, nós não estamos mortos. Pelo contrário! Confesso que nunca estive tão viva. A medicina insiste em afirmar que o que temos é sobrevida. Ouso em dizer que esse julgamento está equivocado. Concordo que nossa rotina não é fácil, pois lutamos contra a maré. São aspirações, dificuldades para urinar e defecar, perda do pudor, fora as sessões de fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, etc...
Tudo isso para tardar o inevitável, a morte. Mas, apesar disso, eu nunca estive tão viva, meus sentimentos e percepções nunca estiveram tão aguçados e minha mente nunca esteve tão lúcida. Realmente, não mexo meus músculos, mas aprendi a ver a vida de outra forma, às vezes, pelo reflexo de um espelho. Acredito que a proximidade da morte pode em um primeiro momento parecer o fim. Mas com o tempo, nós percebemos que é o começo de uma nova pessoa. Mais corajosa. Mais resistente. Mais fria. Mais humana. Quem sabe? A transformação é individual. Mas a profundidade é tamanha que, por vezes, parece irreversível. E, amigo, só muda quem está vivo.
Beijo,
Dani.