Sinceramente, nunca imaginei que um dia estaria aqui falando sobre comunicação. Eu que, por tantas vezes, tentei ajudar algumas pessoas a se comunicar melhor por meio de treinamentos que ministrei. Hoje não pretendo falar de teorias e sim da árdua experiência de me fazer ser entendida diariamente. Tudo que eu falar aqui é baseado na minha experiência de todo o processo de perda da fala.
Primeiro ponto importante, independente do meio utilizado, tanto o emissor quanto o receptor têm que desejar a comunicação. Porque só a vontade de se comunicar propiciará que haja atenção no que está sendo compartilhado. Atenção é o segundo ponto importante. Quando não temos atenção no que fazemos, a possibilidade do erro é muito maior, independente de qual seja a atividade. A atenção no que está sendo transmitido aumenta a possibilidade de compreensão da mensagem. Terceiro ponto importante é paciência para obter a mensagem até o final. Se não tivermos paciência para receber a mensagem até o final, a comunicação será incompleta e, consequentemente, falha.
Apesar de todas as dificuldades, quando utilizamos a fala, a comunicação se torna menos complicada, visto que nossas emoções vêm impressas nela. Quando falamos, há a altura e o tom de voz, além da nossa postura corporal e gestos que facilitam o entendimento da mensagem.
Considerando a sua experiência de vida e tudo que escrevi aqui, imaginem o que uma pessoa como eu, que não fala, não se mexe, possui pouquíssima ou nenhuma expressão facial, mantém sua inteligência, sua lucidez e toda sua experiência de vida viva sofre para ser compreendida?
Tenho a humildade de dizer que ainda estou aprendendo. Afinal, a boa comunicação é um desafio em qualquer situação. E descobri que para cada personalidade, para cada condição social, para cada condição cultural, enfim, para cada pessoa, é necessária uma forma diferente de se comunicar.
A minha jornada para me expressar sem a fala começou com uma pasta de comunicação fornecida por um paciente e aprimorada pela minha terapeuta ocupacional. Confesso que a pasta limitava as minhas possibilidades de fala. Foi quando minha mãe arrumou alguns alfabetos impressos. Escolhi aquele que me pareceu mais fácil. Assim como a pasta de comunicação, ele também foi adequado As minhas necessidades pela minha terapeuta ocupacional. Surgiu, então, uma nova forma de me comunicar. As pessoas falavam as letras e eu piscava para aquelas que eu queria usar. Mas eu tinha que persistir, pois a comunicação era lenta e algumas pessoas não tinham paciência de conversar comigo. Caí no abismo do silêncio. Foi muito difícil e triste. Mas eu tinha uma técnica de enfermagem que se esforçava para entender o que eu ainda falava e que me ajudou muito a não entrar em uma depressão profunda. Foi quando eu tive acesso a outro meio de comunicação mais rápido e eficaz.
Eu me considero uma pessoa de sorte e abençoada por Deus, porque tenho um computador adaptado que me permite digitar e acessar a internet somente com os movimentos dos olhos. Esse computador me foi emprestado. Pertencia a outro paciente de ELA, e quando ele faleceu, veio para mim. Quando eu falecer, ele irá para outra pessoa e assim vai. Costumo dizer que esse equipamento é uma extensão do meu corpo. Ele me trouxe de volta à vida quando me possibilitou o acesso às redes sociais e o contato com as pessoas, tanto virtual, quanto presencialmente. Ele me deu voz quando tudo era silêncio. Por isso, tenho tanto apego. Sem ele, sinto-me nua e desprotegida.
Mas como nem tudo são flores, junto com o computador veio o desafio da comunicação escrita. Tardiamente, dei-me conta que a educação brasileira só ensina as pessoas a juntar as letras e repetir as palavras. Não ensina a interpretar o que foi lido. Percebi que, infelizmente, muitas pessoas não entendem o que está escrito. Muito triste. Foi quando eu percebi que a entonação do que falo é dada pela pontuação que uso e que tenho que estar atenta a isso, assim como aqueles que leem o que escrevo. Notei, também, que meu vocabulário tem que ser adequado para cada pessoa e me dei conta que, em alguns casos, a comunicação é inviável, porque todas as vezes há ruídos na mensagem e, consequentemente, muito estresse. Também redescobri o prazer de conversar e compartilhar a vida com aqueles que amo. É aí que vejo como as conversas fluem e que vale a pena eu me esforçar para ter esses momentos de prazer. Simplesmente porque eu me sinto mais feliz em compartilhar.
Eu sou lúcida e me sinto respeitada quando profissionais como nutricionista, fono, fisio ou enfermeira me perguntam o que sinto e discutem comigo as opções de tratamento. Sinto-me viva. Tenho, também, a possibilidade de definir minha rotina e alterá-la quando for importante para mim. Mesmo sem voz, eu consigo ser ouvida e isso me traz paz e segurança de uma sobrevida menos sofrida.
Infelizmente, sei que a compreensão do que sinto muitas vezes é difícil. Mas não me canso de falar, pois aprendi que a repetição é necessária para uma boa comunicação!
Beijo,
Dani
Daniela,
ResponderExcluirÓtima reflexão sobre a comunicação. Vivemos tão no automático, que não prestamos atenção em como a entonação é importante para a comunicação. Na escrita, isso é repassado para a pontuação, e realmente nem todos são capazes de compreender.
bjs
Lindo Dani, uma explanação digna de um Guru. A definição da comunicação foi perfeita. Fallhamos muito na comunicação, as vezes por pressa, por hábito e muitas vezes por não prestarmos atenção em nós mesmos. Um grande beijo prima.
ResponderExcluirRealmente a comunicação é a base para uma boa convivência.
ResponderExcluirÉ muito salutar discutir e compartilhar sobre os acontecimentos de nossa vida cotidiana e principalmente com aqueles que amamos.
Ficamos muito felizes em poder ouvir sua voz, mesmo que virtual e saiba que você está sempre em nossos corações e em nossas orações.
Beijos e continue compartilhando seus momentos de reflexão conosco.
Suelene, Max e meninos.
Oi Dani! Lindo texto! Feliz por vc. Me vi em seu texto (rs), explico: quando estive ao seu lado, vc me disse " não perdi a sensibilidade" , minha interpretação foi a de que vc se referia ao toque de pele, tato, que vc queria que eu a tocasse, e por um instante me senti tão feliz, mas logo depois, percebi, que pelo contexto do momento, vc apenas estava nos falando sobre a condição como paciente de ELA não perder a sensibilidade dos sentimentos e a plena consciência. Fiquei envergonhada comigo e me achei muito bobinha! Mas, é que eu queria ser importante para vc, afinal, não é nem um pouco difícil gostar muito de vc, mesmo porque, eu já havia entrado no seu blog e lido seus posts é gerado uma certa empatia e admiração por vc. Desculpe a demora, contei os dias para poder ter tempinho para me dedicar a ler meus blogs e sites preferidos. Fica com Deus! Bjs.. Bjs... .Silvana Scórsin
ResponderExcluirOi Dani, bom dia.
ResponderExcluirFomos colegas de trabalho na BTCC, você provavelmente não vai se lembrar de mim, apesar de trabalhar lá por mais de 10 anos. Quando fui transferida para Brasília você já estava saindo (janeiro de 2011).
Mas mesmo não tendo muito contato com você sempre tive ótimas referências suas através dos colegas em comum, conheci seu blog e me emociono a cada postagem.
Pois bem, Dani. Tenho um blog sobre aventuras, histórias de vida e hábitos saudaveis. Gostaria de te convidar pra nos contar sua história com a ELA. Seria uma honra para nós poder contar com a sua colaboração em compartilhar sua história. Não consegui seu email, aguardo sua resposta. Um grande abraço, Deyse Dias.
email: credouaigomg@gmail.com
Desde já, muito obrigada.