Fiquei sem sem
computador por quase 16 dias. Foi um Período bem difícil. Eu usava o computador
há um ano e já estava acostumada a ele. Achei que fosse morrer de depressão.
Mas como sempre diziam meu pai e o Alkinder, aquilo era uma máquina e podia pifar.Tive
que me conformar.
Nos primeiros dias, o som dos meus pensamentos era
ensurdecedor. Ele ecoava por cada célula do meu corpo. Eu queria me expressar e não conseguia, mesmo
com o uso do alfabeto. Ninguém me entendia direito e também não tinha muita
paciência. Foi aí que descobri que só seria possível consertar o computador,
enviando-o para a Suécia. Nesse momento, a conformação veio como desistência de
ser compreendida e da vida. Tive medo da depressão. E aí, eu não falava mais.
Ficava toda babada, com a toalha molhada, com a baba escorrendo pelas costas e
não falava nada. As pessoas vinham aqui e eu só olhava. Teve um momento que o
som dos meus pensamentos nem incomodava mais porque
simplesmente eu não pensava. Então, meus pais chegaram com a notícia de que
iam comprar o sensor de olhos da Tobii para mim. Meu coração se encheu de
alegria e esperança. Mas tinha um problema: a semana seguinte seria carnaval.
Tudo fechado e a empresa ficava em São Paulo. Tive que segurar a ansiedade. Meu
irmão que mora lá comprou um notebook, foi na empresa, instalou os softwares,
aprendeu a mexer, pegou um avião e veio para cá. Tudo isso depois do carnaval,
claro.
Esse período entre o comunicado da compra e a chegada do
computador foi mais tranquilo. Eu sabia que ia ter um fim. Como sempre digo, o
que não mata, fortalece. Fui obrigada a aprender com o momento. Entreguei-me de
corpo e alma para a minha equipe. Tive que confiar 100%. Passamos por momentos
muito difíceis. Vou contar um deles aqui. Ninguém sabe ainda. Só sei que o
saldo foi positivo.
Em uma bela sexta-feira a noite, meu marido saiu para tomar
chopp com os amigos. Nesse dia em especial, eu estava muito secretiva e com
dificuldade para respirar. Meu xarope tinha acabado. Então, eu disse para a
cuidadora ligar para meu marido, avisar que eu estava mal e precisava do
xarope. Sabe o que ela me respondeu? “Você
acha que vai conseguir trazer seu marido de volta para casa inventando que está
passando mal?” Entrei em choque na hora porque eu estava sozinha com a técnica
e a cuidadora, sem computador, e elas achavam que eu estava mentindo. Comecei a
chorar de soluçar. Fiquei pensando o porquê disso. Afinal, nunca havia mentido sobre o
meu estado de saúde, nem me importado com as saídas do Alkinder, que nem são muitas. Enfim... no
final das contas, eu fiquei pior por causa do choro, ninguém verificou meus
sinais vitais e o Alkinder mandou a farmácia entregar o xarope. Foi uma
experiência horrível.
Apesar desse incidente, o saldo foi positivo e meus dias
foram melhores do que eu imaginava. Em função do meu jeito doce e sensível,
para não dizer o contrário, todo mundo achou que seria mais difícil. Mas mal
sabiam que a minha lista de reclamações estava gigante. Estava só acumulando as coisas na minha mente. Seriam dois dias só de
reclamação quando o computador chegasse. Foi quando uma amiga veio me visitar e comentou que eu devia estar
remoendo as coisas para explodir depois. Ouvir aquilo foi um tapa na cara
porque eu estava justamente fazendo isso. Pensei que chata eu era e resolvi
mudar. Afinal, toda a minha equipe estava se esforçando e me tratando muito bem
e eu com o foco nas coisas pequenas e no negativo. Quando o computador chegou,
não fiz nenhuma reclamação. Ao contrário, eu me dei conta que sem a ajuda e
dedicação delas, eu não teria conseguido. Agradeci a elas do fundo do
meu coração.
Enfim, sobrevivi aos 16 dias sem comunicação, mas marcas
ficaram. A gente se acostuma a tudo, até ao silêncio. E eu desaprendi a me expressar. Aprendi a não compartilhar. A gente se acostuma a não comentar o que achou da novela ou de uma propaganda legal. A gente
se esquece de falar o que acontece com a gente. Triste? não acho. Isso é uma
adaptação a realidade. Faz parte do meu processo.
Obrigada, principalmente, aos meus pais e ao Thiago por me devolverem a vida, ao Alkinder pelo suporte do computador, ao Fabio por ficar comigo e ter paciência de usar o alfabeto, aos meus amigos Carol, André, Aline, Lud, Jean, Priscila e Elton que vieram me visitar e me fizeram rir, mesmo sem computador e as minhas técnicas Elisangela e Rosana pela paciência, carinho e dedicação.
Obrigada a você por ler o meu texto.
Beijo.
Dan
Em circunstância bem distinta, também tive que aprender a silenciar.... :) Você é linda!! Bjs
ResponderExcluirDani, você parece uma escritora, das boas. A gente começa a ler o seu texto, simples e não quer mais parar. Você é leve para escrever e se expressa de uma maneira singular. Bjs
ResponderExcluirVc é incrível Dani!
ResponderExcluirUma alma iluminada e guerreira...sei o qto deve ser difícil. .presencio isso com minha mãe, que tbem não consegue se comunicar muito bem e que fica nervosa com isso...Além do q não aprendeu ainda, a aceitar sua nova vida!!!
Mas vamos lutando e vc mostra toda a dificuldade de uma forma mais esclarecedora...
Obrigada!!
Bjs
Obrigada a você por compartilhar seus pensamentos mais profundos, suas dores mais doídas e suas alegrias, mesmo que fugazes. Obrigada por me dar sempre uma lição nova. Te amo Dani.
ResponderExcluirOi dani minha mãe também tem ela se souber aonde compra o software ou como se compra pela leitura dos olhos me envie por favor no meu email guilhermethereza@hotmail.com obrigad
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