Família

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domingo, 1 de junho de 2014

FILHOS

Eu sempre quis ser mãe. Na época, eu não sabia o porquê, só sabia que tinha muito medo da responsabilidade, pois eu teria que abrir mão da minha vida por outra pessoa, e, egoísta como eu era, ter um filho seria um pouco difícil. Meu casamento era tão bom, tão sem compromissos, saíamos a vontade sem hora para chegar, viajávamos, enfim, levávamos uma boa vida de recém-casados. Ainda assim, eu queria ser mãe, talvez, por pressão social.

Como vocês já leram, eu tive um aborto no final do ano de 2008, juntamente com o início dos sintomas da doença. Eu sofri muito, e não entendia porque Deus tinha tirado a oportunidade de ter um filho em um momento tão difícil da minha vida, no qual eu estava doente e ainda não sabia o que tinha. Eu pensava que um filho naquele momento nos traria felicidade, mas hoje eu entendo. Imagina eu, na situação em que me encontro, com um filho de 5 anos. Eu iria sofrer muito mais por saber que eu não poderia acompanhar seu crescimento. Já sofro por causa dos meus sobrinhos, imagine como seria com um filho.

Em certa ocasião, pedi desculpas à minha sogra por não poder dar-lhe netos. Ela me surpreendeu me consolando que não tinha problema, que inclusive muitos casais de hoje optam por não terem filhos. A minha mãe, falando sobre o assunto, disse-me que se ainda tivesse útero, geraria um filho para mim. Coisa de mãe! Também, eu só confiaria esse tipo de coisa a ela ou a uma irmã, se eu tivesse uma. Bom, tive muitas conversas sobre o assunto, principalmente com o meu marido. Foi difícil para nós nos conformarmos com isso. Acho que para ele foi mais difícil. Só que hoje o nosso pensamento mudou. Temos tantos problemas, como por exemplo, manter-me viva, que talvez a ausência de um filho perdeu a sua importância.

Na verdade, eu acho que foi melhor assim. Acho que eu e o Alkinder não temos mesmo perfil para sermos pais, acho que não temos muita paciência e não construímos a nossa casa pensando em crianças: tem muitos vidros, quinas, móveis baixos, piscina, etc... Fora que a minha doença nos toma muito tempo, muito mais do que tomaria um filho, quem sabe.

Entretanto, a impossibilidade de ser mãe me gerou muitas reflexões, algumas delas provavelmente nem teriam passado pela minha cabeça se eu tivesse experimentado a maternidade. Percebi que algumas pessoas criam os filhos para serem bem sucedidos. Outras, menos materialistas, criam simplesmente para serem felizes. Mas, como ninguém pode garantir a felicidade de um filho, nem que rumo sua vida tomará, eu pude entender que ser mãe é um ato de coragem e plena doação, pois ela produz e cuida de algo que não é dela e sim do mundo! Infeliz da mãe que não pratica esse desapego! Deve ser tão difícil.

Eu ainda pude entender em todo esse contexto que o papel de pai e mãe é formar pessoas de bem, de bom caráter. Os pais têm que preparar os filhos para a vida, impor limites e aparar as arestas das más tendências. E se eles fracassarem, serão julgados, condenados e massacrados pela sociedade, por melhores que tenham sido. Mas, também, amarão e serão amados incondicionalmente, por pior que pareça a situação.

De qualquer modo, independente de alegrias, tristezas e dificuldades, acredito que o melhor papel de uma mulher é o de mãe. Quem sabe na próxima encarnação!!!??? Afinal, "que coisa louca, que coisa linda que os filhos são", escreveu o sábio Vinícius de Moraes.

Beijos,
Dani
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Poema enjoadinho

Filhos...Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Se não os temos
Que de consulta

Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!
Vinícius de Moraes
(1913-1980)

5 comentários:

  1. É Dani, esse realmente é a missão de pai e mãe. Fico feliz em ver como tanto você e o Alkinder são pessoas de bem e de caráter, e isso sem dúvida vem da criação dos pais de vocês. Além de tudo isso, estão sempre ao lado de vocês com um apoio e amor incondicional. Sabe q tbem penso nisso e hj olho p minha sobrinha e espero q ela faça tudo q um filho faria, caso eu também fique p a próxima encarnação....rsrsrs

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  2. Oi Dani !! Oi Alkinder ... filhos são essas coisas todas ... que você e que o poeta escreveu ...gostei do que escreveu Dani .... boa filha !!! acabei de ler pra Luiza minha mulher... ela se encantou ... grande abraço ,... de um abraço no negão gente boa !!
    Mariano !!

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  3. Belíssima Dani... dizem que Deus escreve certo por linhas tortas, mas a nós como sua imagem e semelhança é dada a escolha de escrevermos nosso destino..então fazemos nossas opções e que são as melhores sempre, pois escolhemos viver situações que nos farão crescer e nos aproximar de Deus. Assim você e Alkinder tb o fazem e são muito abençoados. Receberam a graça de terem um ao outro e a vida como intermediária. Lembre-se que a vida nunca acaba...só muda de plano. beijos no coração!

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  4. Dani,
    A maternidade realmente é um presente, mas somos testados todos os dias,, Achei perfeita a sua colocação, Seja como for, já ganhastes tanta sublimação, que esta excessão, o filho, pode ter certeza é menos uma dor neste mindo de buscas e lutas!! Você é demais, te admiro e cada dia mudo um algo interior em mim!!!! Obrigada por ser tão especial.beijos Solange;

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  5. Pois é... Sofremos seus sofrimentos, sorrimos suas alegrias, são uma parte de nós, mas não são nossos... Como é difícil...Desde que nascem, começam uma caminhada que vai quase sempre no sentido oposto ao nosso... E nosso papel nisso tudo, é garantir que estejam preparados.

    " Ser mãe é desdobrar fibra por fibra
    o coração! Ser mãe é ter no alheio
    lábio que suga, o pedestal do seio,
    onde a vida, onde o amor, cantando, vibra.

    Ser mãe é ser um anjo que se libra
    sobre um berço dormindo! É ser anseio,
    é ser temeridade, é ser receio,
    é ser força que os males equilibra!

    Todo o bem que a mãe goza é bem do filho,
    espelho em que se mira afortunada,
    Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!

    Ser mãe é andar chorando num sorriso!
    Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!
    Ser mãe é padecer num paraíso!"
    Coelho Neto

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