Família

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terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

A morte e o morrer

A "morte" e o "morrer" nem sempre andam juntos, pelo menos na minha opinião. A morte parece-me mais abstrata e fala-se nela como se fosse algo muito distante. Morrer é mais concreto, algo com ação, e comenta-se dele com receio e tristeza, pois ninguém quer morrer.

Eu acho, na verdade, que o perigo está quando a morte e o morrer se juntam. Aí, amigo, já era, porque quando chega a nossa hora, não tem mais jeito de escapar. Eu confesso que, na maior parte do tempo, penso na morte como um desejo, e acho egoísmo daqueles que rezam pedindo para uma pessoa com doença grave e incurável continuarem a viver a qualquer custo. Aposto que o céu é bem melhor que a terra! Por que não nos deixam ir para lá?

Apesar do meu desejo de morte, eu tive duas experiências que me mostraram que o conceito de morte é muito diferente de morrer. A primeira foi quando tive um desmaio em casa por falta de ar. Nos poucos minutos que se passaram, eu lutei para viver, mesmo desejando a morte. Fui afetada por uma atelectasia pulmonar (1), em que os meus alvéolos pulmonares haviam colabado. A segunda experiência foi bem pior. Ocorreu quando acordei da gastrostomia (2) com a boca e garganta cheias de saliva e secreção e não conseguia respirar. Foi desesperador! O sedativo que tomei enfraqueceu mais ainda meus pulmões. Lutei muito para não morrer, e depois de tudo o que passou, eu fiquei me perguntando o porquê de não ter deixado a morte me levar, considerando que não havia me entregado.

Me dei conta de que eu havia vivenciado umas das mais sublimes experiências animais: o instinto da luta pela sobrevivência. No fundo, eu acho que ninguém quer morrer de verdade.

Tudo isso me lembra um conto: "Quem quer ir para o céu?" - pergunta o padre - e todos levantam a mão. "Quem quer morrer?" - indaga novamente - e ninguém se manifesta. Ora, mas não é só morrendo que a gente vai para o céu, me pergunto!

Somente depois desses acontecimentos eu descobri que, apesar de desejar a morte, eu não quero morrer.

Beijos,

Dani

(1) Atelectasia Pulmonar 
(2) Gastrostomia

15 comentários:

  1. Força, garra e luta... te admiro!!!! Abraços querida.

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  2. Lindo o seu texto!
    Dani estamos juntos nessa luta pela vida! Depois de alguns anos ao lado do meu esposo que também tem diagnóstico de Esclerose Lateral Amiotrófica-ELA (2005), uma das coisas que mais ouvimos é sobre o quanto as pessoas que tem ELA "gostam" de viver e o quanto os médicos aprendem sobre a vida convivendo com essas pessoas tão especiais. Saudades de vocês. Bjos

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  3. Dani, achei lindo e concordo com o que escreveu. Eu senti isso com o meu filho Rafinha, queria muito poder trocar de lugar com ele, assim como seus pais com certeza se pudesse fariam por ti, com provas imensas de amor e doação. O fato é que temos medo do desconhecido e por mas que tenhamos fé é algo acima da nossa compreensão. Admiro a sua capacidade de extrair prazeres nas pequenas coisas, na luta pela vida. Temos sempre dois caminhos ou escolha a tomar em qualquer situação, e você escolheu a correta. As fraquezas e desvios fazem parte, mas a ajuda espiritual que tem recebido certamente é algo maravilhoso e cada vez mais irá te ajudar a trabalhar com os medos, de forma que se sinta bem que é o mais importante, você já é uma vitoriosa e a sua experiência te faz viver e fazer parte da vida das pessoas, você vive nas pessoas, pode ter certeza disso.

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  4. Concordo plenamente com você Dani ...a morte é o desconhecido...e enquanto há um fio de vida sempre haverá uma esperança.Você é muitíssimo especial, estou tendo verdadeira aula de superação.minhas reverências!!! Que Deus continue te iluminando.beijos no coração!!!

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  5. Que Deus te dê muita sabedoria, pois força, garra e determinação você já tem, Te admiro muito pela sua força de viver. Bjs no seu coração. Simone.

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  6. Olha que pessoas como você, com sua sabedoria, Deus colocou na Terra para darmos valor a vida. E você uma menina com força e garra nos ensina. Beijos Vizinha (Eliane 329)

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  7. Dani, parabéns pelo lindo texto. Emocionante! Beijo.

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  8. Oi Dani,
    Não sei se vc vai lembrar de mim, estudamos juntas no Santa Dorotéia, meu nome é Karinne Fernandes, fiquei muito emocionada com seus depoimentos, sou fisioterapeuta e histórias como a sua fazem parte da minha vida também e iniciativas como essa do blog, edificam a vida de muita gente. Oro para que o Senhor continue a te fortalecer, para que vc siga adiante com esse projeto. Se eu puder ajudar de alguma forma, meu e mail é karinnefigueiredo@yahoo.com.br. Um grande abraço.

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  9. Oi Dani,
    Seu texto é uma terapia para quem, como eu, tem algum distúrbio psiquiátrico.
    Já senti vontade de morrer várias vezes, mas nunca passei por nenhuma situação semelhante às que você está narrando no seu texto, um texto tão emocionante, tão cheio de vida e fé.
    Peço que continue porque poderá ajudar muita gente que padece dessas mazelas inexplicáveis da fraqueza humana. Sua força, demonstrada no que enfrenta e nessas palavras publicadas, é inspiradora.
    Obrigada pela oportunidade!
    Um abraço da sua prima,
    Cínthia.

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  10. Dani, que texto profundo. Refleti muito sobre ele nessa semana. Felizmente nosso Redentor venceu a morte, vive e reina eternamente. Muita força para você e seus queridos. Mac

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  11. Linda, maravilhosa, Iluminada!! Quantos precisam dessa "claridade" e força que você tem? Admiro você por tudo que representa, pela lindeza que é e pela Luz que irradia.... A morte? Ela que me aguarde... Ainda não estou pronta pra partir... Mas ela não me mete medo!! Amei seu post!! Amo você! Beijinhos

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  12. Lindo. Meu pai dizia que queria morrer, mas, quando a morte chegava bem perto mesmo, ele dizia que nao estava pronto... um dia, ele entrou num vazio, acho que desses vazios férteis que os budistas falam, e foi. Sinto eu que a morte é fácil, o difícil é se desapegar da vida. Desejo do fundo do coração - nao te conheço, mas sou irmã do macarrão - que Deus te dê muita luz e que vc esteja sempre rodeada de amor.

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