Família

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segunda-feira, 24 de março de 2014

O DESAPEGO - Parte II

Não imaginei que o meu texto sobre o desapego fosse mexer tanto com as pessoas. Enfim, a minha intenção era mostrar a minha realidade e os meus sentimentos. Quando escrevo, tento ser a mais verdadeira possível. Como a verdade é minha, ela mexe comigo de maneira diferente. Por isso, eu confesso que não sei dimensionar o impacto dos meus textos nas pessoas. Mas fico feliz em saber que eles provocam emoções tão diferentes.

Continuando com assunto sobre desapego, essa palavra para mim é sinônimo de "não me importar mais": Outro processo difícil. Sempre fui muito exigente e perfeccionista. Todas as minhas coisas tinham que ser perfeitas, como boa virginiana. 

Com a doença, eu tive que tentar me desapegar dos meus perfeccionismos. Por exemplo, cuidei da minha casa até onde pude. Agora, eu simplesmente não me importo mais. Não me importo mais se a casa está suja, se a empregada não sabe passar roupa, se a técnica não sabe fazer minha mudança de decúbito... Eu não falo mais, então, tento não me importar se fui bem limpa, se o banho foi dado direito, se a medicação está certa... difícil demais. Parece que o perfeccionismo se impregna no nosso corpo como perfume ruim. 

Só para ver o nível da coisa... moramos dois anos na França, eu tinha uns quatro anos e, como qualquer criança, aprendi a nova língua rapidamente. Minha mãe conta que eu ficava corrigindo a pronúncia dela. Olha que chata! Como mudar um padrão de comportamento que existiu desde sempre?

Dependo 100% de outra pessoa e, para que eu não sofra, é necessário que eu confie no outro. Para que isso ocorra, é necessário que eu não me importe mais, só que na minha cabeça maluca, não confio em ninguém, nem no meu marido, por melhor que ele ou a minha equipe sejam. Sou privilegiada por ter uma equipe de enfermagem com cinco pessoas que me atendem. Elas são ótimas, super competentes, dedicadas e confiáveis, meu marido também é perfeito, mas eles não sou eu. E eu era imbatível!!! Desculpem a falta de modéstia. rsrss...

E aí, a verdade é que eu não consigo não me importar nem largar totalmente o meu perfeccionismo. Quando o assunto sou eu, eu me importo muito, principalmente se for relacionado ao meu conforto ou a minha qualidade de vida. Tento disfarçar para não ser tão chata, mas eu vejo a verdade, e para sofrer menos, fico quieta, no meu silêncio, sofrendo sozinha. Simplesmente, sei que preciso deixar para lá. Eu tento, eu tento!

Beijos,

Dani.

8 comentários:

  1. Não se importar mais... descrição para desapego melhor do que essa é impossível. Saber o que realmente importa é difícil, mas perguntar o que acontecerá se isso não for como eu quero, já é um caminho grande. Seus desapegos me lembraram uma certa Ariadni que estou deixando para trás. Me cobrei muito por muito tempo em minha vida Dani. Como mulher, mãe, profissional, funcionária, chefe, etc etc etc. Endureci e com isso enrijeci músculos e nervos. Engordei e fiquei hipertensa. Para que é o que pergunto hoje. Estou aprendendo e alcançando boas metas. bjus te amo

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  2. Sou Djanira,descobri a pouco tempo que tenho essa doença, inicei tratamento palhiativo em 2011,dor intensa,diminução de força estou na cadeira de rodas,não aceito.é difícil.gostaria de me preparar,como faço,um abraço

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  3. Estamos juntos tentando, Dani. E como e difícil. Que o Senhor em sua graça nos de sabedoria para lembrar e praticar o Evangelho que no final das contas, e o símbolo maior do desapego. Um abraço virtual e uma semana repleta de vitórias a todos nos.

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  4. Deixar de ser o que somos..impossível..está no nosso DNA, você escolheu as suas armas para esta sobrevivência.Mas a dor é sua e só você sabe a avalanche dos seus sentimentos.Só posso lhe dizer, que deus te abençoe e muita luz , força e fé.Dizer mais o que? O que mais posso acrescer?Beijosss SER de Luz!!!

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  5. OI Dani,
    Você pode até pensar que o desapego seja: “Não me importar mais”. Porém, vejo o desapego como uma virtude que nem sempre temos a felicidade de praticá-la, pois para exercitá-lo, muitas vezes, precisamos nos desfazer de nossos orgulhos, de nossas vaidades ou até mesmo de bens valiosos que por vezes nos servem de escudo para a prática da prepotência do exibicionismo, dos autoritarismos e do desprezo pelo próximo.
    Muitas vezes praticamos o dar a alguém necessitado, algo que não precisamos e que para nós não passa de sobras. Com isto, nos regozijamos e nos envaidecemos perante os necessitados como se estivéssemos praticando um grande ato de caridade. Na realidade não estamos praticando nem um ato de bondade excepcional, não estamos dividindo nada, apenas estamos nos desfazendo de algo que não nos interessa, podemos até estarmos promovendo uma simples limpeza de ambiente. No entanto, mesmo assim, é comum não nos desapegarmos de tais sobras.
    Ora, por que “O Desapego” mexeu tanto com seus leitores? A resposta é óbvia. Pelo seu relato entendemos que o mais importante é o individuo, só o investimento na felicidade do próximo nos garante um futuro seguro. E o Desapego é um dos caminhos que nos leva a essa segurança.
    Quanto aos cuidados que sempre existiram e estão ao seu alcance, continuam existindo, basta ver o zelo e a beleza de seus escritos, a paciência e o carinho que recebe suas visitas, mesmo após um dia cansativo ou não.
    E o perfeccionismo. Não acho que você seja tão perfeccionista como diz mais de qualquer forma é uma coisa boa para se praticar o desapego. Perfeito só Deus. Por que então jogar fora um esforço gigante de alguém que atingiu o objetivo com apenas 99% de qualidade? KKKK.
    Beijos,
    Tarcilio.

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  6. Simplesmente, perfeito.... esse texto mexeu comigo muito mais que o outro!!! Eu sofro quando tenho que silenciar para não ser chata, mas não tenho nem ideia e noção do grau do seu sofrimento ao silenciar. Hoje brigo para ser feliz e sempre acho que tenho que impor aos outros as minhas verdades e mostrar sempre que o limite do outro termina quando o meu começa... mas será que eu não seria mais feliz me silenciando????? Obrigada por me fazer refletir!!!

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  7. Dani, você já tem sofrimento demais para ficar em silêncio sobre as coisas que você pode mudar. Você não precisa deixar para lá... Mostre às pessoas onde estão falhando. Elas podem não estar cientes. CONFIE!

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